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Antes mesmo de nascer há planos prontinhos à sua espera. Vai se chamar Clara, ou Juliana, ou Hugo, ou Antônio, como o avô. Vai estudar na melhor escola da cidade, ou na mais próxima de casa, ou na mesma que o irmão já estuda. Vai ser um rapaz trabalhador, ou uma moça virtuosa, ou uma criança afetuosa. Vai ter o sorriso do pai. E os cabelos da mãe.

Só que você nasce já botando abaixo a grande maioria deles. Você nunca é ou faz ou se torna o que esperavam.

Pior: não satisfeito com tantos planos pré-fabricados, você faz os seus conforme o momento. Planos para amanhã, para o feriado, para a próxima conversa com o chefe, para quando se casar, para o aniversário de 40 anos, para comprar a camisa do Palmeiras para o filho. Um sem fim de planos que, mesmo sempre e sempre desmanchados ao sabor das novidades e dos tropeços que aparecem, sempre e sempre refeitos, com alterações aqui e ali.

Veja: eles não morrem, mas renascem sob outros nomes sob novas condições. De outras idéias.

Ainda assim você volta para casa, um dia, frustrado por não ter realizados aqueles mil planos de uma vida inteira. Por ter os cabelos do pai e o sorriso da mãe – não o inverso. Por ter tido apenas filhas que não gostavam de futebol; por não ter feito festa no aniversário de 40 anos; por ter, afinal, se casado mesmo.

E apesar de tantas frustrações a permear as lembranças, você enfim percebe que, na verdade, tudo isso é só isso. Não há planos, nem ambições, nem grandes vontades que transformem a realidade em algo maior ou melhor. Mesmo que houvesse, o resultado da sua vida seria o mesmo. O que existem são escolhas bem ou mal feitas e a força de vontade de fazer a vida girar. Apenas.

Tudo isso é só isso. E a esta idéia você sorri, finalmente.