Lu
Costumo dizer que virei gente depois que o Pepeu nasceu... e é a mais pura verdade.

Confesso que nunca quis, realmente, ser mãe. Sempre gostei de crianças, tomei conta de várias mas não via com muito ânimo a possibilidade de ter as minhas porque sou uma pessoa que preza muito a própria solidão.
Quando estou em casa gosto de passar horas no meu silêncio, ruminando coisas, criando teorias, viajando em roteiros imaginários que eu sei que jamais escreverei.

Eu simplesmente AMO esses momentos e a maternidade não combina com eles. Crianças, eu pensava, nos solicitam o tempo inteiro e eu sou muito egoísta para dar meu tempo integral a elas.

E tive o meu.

O nascimento do Peu é uma história à parte: Como sempre fui super natureba e confiava plenamente na minha capacidade de parir, exigi um parto natural. Não normal, natural; sem drogas, anestesias ou intervenções médicas. Na verdade eu queria um parto domiciliar, mas para não enfartar o pai da criança, abri a concessão de dar a luz em um hospital...

Virei São Paulo do avesso e, quando faltavam três semanas para o nascimento, encontrei o médico ninja que topou acompanhar o parto nos meus termos. Contratei uma doula e me preparei para a festa.

O trabalho de parto durou 30 horas. Eu entrei no hospital na quinta e Pepeu nasceu no sábado. Embora exausta, eu estava radiante.Tudo saiu como eu imaginava e todos saíram ganhando: A comunidade médica ganhou a comprovação fática de que mulheres pequenas podem parir crianças grandes naturalmente e que tudo acaba bem, eu ganhei perspectivas- percebi que posso tudo- e o hospital, por dois dias, ganhou uma atração- recebi a visita de médicos, enfermeiras, doulas e até do diretor da maternidade que queria conhecer, pessoalmente, a maluca do 719, também conhecida como “Luluzinha 30 horas”.

Estranhei o bebê no começo. Não foi aquele amor à primeira vista que todas diziam. Desequilíbrios hormonais também não ajudaram nessa adaptação inicial....passei duas semanas chorando sem parar.

Uma madrugada, depois de três semanas do nascimento, estava amamentando o pequeno, exausta, descabelada, faminta, me acostumando ao fato de ter que alimentar um bebê de hora em hora, 24 horas por dia, com meu próprio corpo quando.... aconteceu. Por um instante, um instante rápido, ele abriu os olhinhos, me olhou fixamente e deu uma espécie de sorriso, me reconhecendo. Foi aí que eu virei mãe.

A partir daquele momento começou a delícia das pequenas descobertas; aquela pintinha que ele tem igual a minha e no mesmo lugar, os cílios cumpridos, o sorriso, os mesmos olhos expressivos, o jeito tímido diante de estranhos, a unha roída pela ansiedade...

E o amor...ah, o amor! Sempre ouvi falar do amor de mãe mas só hoje eu entendo a plenitude do sentimento. Quando o amor de mãe despertou em mim, não foi apenas em relação ao Peu, mas se estendeu a toda a humanidade. Hoje me sinto um pouco responsável por cada pessoa que me rodeia.

Dizem que ser mãe é padecer no paraíso...eu acho que ser mãe é se divertir no inferno. A rotina não é fácil mas eu não me lembro de como era minha vida antes do Pepeu. Cada noite sem dormir (e não foram poucas), cada minuto em um pronto-socorro pediátrico, cada CD riscado, livro desenhado, monitor arranhado valem pela frase espontânea, sincera e quase distraída: “Mamãe , você é uma plincesa”.

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Esse relato é uma parte da minha história, um pedaço da minha vida, uma parte minha que ofereço a duas mães especiais: à minha grande amiga Gabi, que está para iniciar seu próprio relato com a Beatriz e à minha amiga-irmã Raquel, que presenteou o universo com a sua Rafaela.

Beijos às duas. Amo vocês.
2 Responses
  1. Que lindo, Lu!!!!!!!!Amei! Apesar de ja ter ouvido o seu relato sobre a maternidade, e sempre relembra-lo quando penso na eterna tarefa que terei a partir do proximo carnaval, amei le-lo e saber que vc tem um blog (daaaaaaaaa, pq nao me contou). Bom, agora ja vou qu evou ler o resto que vc ecsreveu, rsrsrs. Amo vc, amiga, sempre.


  2. Unknown Says:

    obrigada querida! obrigada pelas gargalhadas, pelas palhaçadas, pelas piadas novas (e aquelas que a gente repete todo ano), pela honra de ser a madrinha do Pê e, em especial, pela sua amizade incondicional.

    bjão!!